Dois meses de silêncio: escândalo na Câmara de Paço do Lumiar segue encoberto e sem responsabilizações  

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Nesta quarta-feira, 9 de julho, completam-se exatos dois meses de um dos escândalos mais vergonhosos já registrados no Legislativo de Paço do Lumiar. 

No dia 9 de maio de 2025, uma confraternização informal promovida na chácara do vereador Miau Oliveira (Solidariedade), apelidada de “rave”, terminou em caos e vergonha. O encontro entre parlamentares foi marcado por excessos, ingestão de bebidas e, segundo denúncia formal, o uso de substâncias suspeitas distribuídas em jujubas colocadas na mesa pelo presidente da Câmara, vereador Fernando Feitosa (Podemos), e pelo vice-presidente, Paulo Henrique (PSB).

A situação se agravou quando três vereadoras; Mary Mojó (PL), Ellen do Bigode (MDB) e Bianca Mendes (MDB) passaram mal durante a festa e precisaram ser socorridas em hospitais particulares da capital. Foi a vereadora Mary Mojó quem, corajosamente, denunciou o caso à Delegacia Especial da Mulher, seguida das vereadoras Ellen e Bianca, relatando o episódio de maneira detalhada. Segundo o boletim de ocorrência, o consumo não foi consentido e houve suspeita de que as substâncias nos doces teriam provocado os sintomas graves nas vítimas. Também estavam presentes na festa os vereadores Rafael Neves (PRD), Fernando (PMB), Geovane Abreu (União Brasil), Leandro de Orlete (Agir), Mauro Multibancos (PSDB), Éder Alencar (União Brasil), Carmem Aroso (Podemos) e Kamilla Belfort (PRD).

Mesmo diante da gravidade, a Câmara Municipal optou pelo silêncio institucional. O presidente Fernando Feitosa, um dos citados como responsável por levar os doces suspeitos ao local, chegou a classificar o caso como “fake news” em uma entrevista rápida, tentando desacreditar as vítimas. Nos bastidores, a orientação de aliados políticos e figuras com influência sobre os vereadores foi a de não dar repercussão ao caso e “deixar esfriar”. Mas o fato é que o episódio ultrapassa os limites da política e representa um ataque direto à integridade física, à honra e à dignidade das vereadoras envolvidas, além de ser um desrespeito a todas as mulheres de Paço do Lumiar.

Juristas consultados pelo site Pedro Felipe foram categóricos: a conduta pode ser enquadrada em diversos crimes graves, como tentativa de lesão corporal (Art. 129, CP), perigo para a vida ou saúde (Art. 132, CP), envenenamento ou administração de substância sem consentimento (Art. 243, CP), e até tentativa de homicídio (Art. 121 c/c Art. 14, II, CP), com penas que podem chegar a 20 anos de prisão. Além disso, a quebra de decoro parlamentar é evidente e pode levar à cassação do mandato dos envolvidos. A omissão da Casa Legislativa em apurar e punir o caso é tão grave quanto o crime em si, pois reforça a impunidade, o corporativismo e o machismo institucional.

Diante do silêncio das autoridades e da falta de providências concretas, resta à sociedade civil e aos órgãos de controle exigir uma resposta. Um caso como esse não pode ser varrido para debaixo do tapete. A Câmara de Paço do Lumiar deve explicações urgentes à população e, sobretudo, às vereadoras que foram vítimas de um dos episódios mais revoltantes da história política local.